21 de abril de 2015

Resenha: A Playlist de Hayden, de Michelle Falkoff

Título: A Playlist de Hayden
Título Original: Playlist for the Dead
Autora: Michelle Falkoff
Editora: Novo Conceito
Páginas: 288

Sinopse:
Depois da morte de seu amigo, Sam parece um fantasma vagando pelos corredores da escola, o que não é muito diferente de antes. Ele sabe que tem que aceitar o que Hayden fez, mas se culpa pelo que aconteceu e não consegue mudar o que sente
Enquanto ouve música por música da lista deixada por Hayden, Sam tenta descobrir o que exatamente aconteceu naquela noite. E, quanto mais ele ouve e reflete sobre o passado, mais segredos descobre sobre seu amigo e sobre a vida que ele levava.
A PLAYLIST DE HAYDEN é uma história inquietante sobre perda, raiva, superação e bullying. Acima de tudo, sobre encontrar esperança quando essa parte parece ser a mais difícil.

Expectativas. Eu não lido bem com elas. Fico ansioso, perco o foco, idealizo. É isso o que eu faço quando crio expectativas sobre algo. Sejam livros, jogos, lugares, situações, pessoas.

Todos sabemos ao que leva o excesso de expectativas: uma grande decepção. E talvez essa não seja necessariamente uma resenha, mas sim um desabafo sobre o que eu esperava encontrar neste livro.

A Playlist de Hayden.



Como diz o título e como a sinopse indica, tem a ver com as músicas que Hayden deixa para Sam, seu melhor amigo, antes de cometer suicídio.

Apenas isso era o que eu sabia quando ouvi falar sobre o lançamento do livro. Dramas depressivos e introspectivos, com toques de melancolia, como este aparentava ser, sempre me atraem. Assim foi com Minha Metade Silenciosa, que nem cheguei a escrever meus comentários sobre, mas que é um livro sensacional!

Junto com os anúncios, um hotsite foi lançado contendo as músicas da playlist para ouvirmos. Não pensei duas vezes em montar a mesma no Deezer, com o máximo delas que estivessem disponíveis, e ouvir repetidamente, dia após dia, até ter meu exemplar de pré-venda em mãos.

Fiquei tão, mas tão incrivelmente fissurado nas músicas, nas letras, nos tons, nas melodias, no que cada uma delas poderia representar na história, que elas praticamente me garantiam que o livro seria espetacular.

Li pelo menos três vezes os primeiros capítulos on-line antes do lançamento. Cheguei a começar a leitura em inglês, mas senti que estava perdendo os sentimentos que a tradução poderia deixar mais claros.

O prólogo, para mim, foi extremamente chocante e tocante, com aquele tom depressivo que tanto me atrai.

O simples fato de me colocar no lugar de Sam, adentrando no quarto de seu melhor amigo, e encontrando-o desacordado, com uma garrafa de bebida alcoólica, frascos de comprimidos, um bilhete junto com seu iPod, ao lado da cama, dizendo "Para Sam. Ouça, você vai entender", me fez estremecer e desabar. Eu não consigo, é demais para mim. É insuportável pensar que o Sam poderia ser eu, e Hayden poderia ser um dos meus melhores amigos, pessoas que tanto estimo nesta vida.

Por este começo que o livro me ganhou por completo e me entreguei a ele sem pestanejar, e sem antes conhecê-lo por inteiro.

E então chegou!


Nessa parte do texto, eu não quero mais ter o pudor de medir palavras para evitar os spoilers. Eu preciso apenas dizer o que estou sentindo. O choque foi grande. A queda foi alta. Ao menos para mim; espero que não seja para você. Lembrando que esta foi a minha experiência com o livro, com as expectativas que eu criei em cima dele, ok?

A playlist está envolvida com o livro, sim. Cada capítulo tem como título uma música, e esta deveria ter uma ligação com o que estaria acontecendo no mesmo. E é o que acontece, de fato!, mas a execução, a meu ver, deu-se de forma tão pobre... Foi, então, que me dei conta de que estava apenas lendo um drama juvenil. Conforme os capítulos passavam, eu tinha cada vez menos esperanças de encontrar aquela carga emocional depressiva que tanto fora descarregada de uma vez lá no prólogo.

Comecei a ter a impressão de que a autora construiu a trama com base nas músicas, tentando encaixar situações que justificassem a presença delas no livro, e não o contrário: a trama ser complementada pelas músicas, de forma natural, como deveria ter sido.


No meio da narrativa, em cada um dos capítulos, Sam parava para pensar por que Hayden escolheu tal música para a playlist. NÃO FAÇA ISSO! /o\ Era tudo o que eu não esperava ver! Viu? É esse tipo de "artifício" que faz parecer que o uso daquela música foi forçado.

Muito menos esperava que o suicídio inexplicado de Hayden começasse a virar uma subtrama em forma de mistério, com vinganças acontecendo a cada um dos garotos que praticavam bullying com Hayden, e "investigações" com as pessoas que tiveram envolvimento com seu melhor amigo. NÃO! POR FAVOR, PARE COM ISSO!

Da mesma forma, eu não esperava me deparar com o morto entrando em contato com Sam através de um jogo on-line de RPG! E resoluções vindo à tona quase como um vulcão no final... [sic] Tudo errado... Aliás, tudo como um drama juvenil deve ser, inclusive com romance.

Eu esperava muito mais profundidade, mais conflitos internos, mais flash-backs, mais pontos de vista, uma forma diferente de relacionar as músicas com a história... Eu esperava uma história muito diferente, e me decepcionei.

... é isso.

Sabe, esse desabafo todo foi bom. Não sei se mais alguém teve ou vai ter esses mesmos tipos de pensamentos sobre o livro, mas a autora poderia ter explorado de forma tão mais introspectiva essa história.


Ainda que você pense que odiei o livro com todas as minhas forças, eu pude identificar seu potencial e suas partes boas. Fiz várias marcações de partes interessantes durante a leitura. Os personagens demonstram crescimento, maturidade, e refletem muito sobre sua parcela de culpa na morte de Hayden naquela fatídica noite. E mesmo que a história tenha sido tão divergente àquela que eu criei na minha cabeça, com base nas músicas, é, ainda, interessante de se conhecer.

Li-o em um dia (se não contar meu hiato de uma semana após os quatro ou cinco primeiros capítulos). A escrita é fluida, mas a narrativa, como já antes argumentado, não é tão profunda quanto eu acho que poderia ter sido.

A arte gráfica está sensacional, como geralmente são os livros da Editora Novo Conceito. A capa é muito chamativa, e o tom de azul, quase petróleo, as silhuetas e o título em preto, só contribuíram mais para a possibilidade de um tom melancólico que eu esperava encontrar no texto. Ainda assim, acho que é uma história legal, e acredito que muita gente vai gostar e apreciar, sem preconceitos, muito mais do que eu.

Isso tudo que você acabou de ler foi uma experiência causada pelo excesso de expectativas. Tome cuidado, a próxima vítima pode ser você.


   ~ Links ~   

A Playlist de Hayden pode ser encontrado em:


 -
O conteúdo deste post é protegido. 
Caso queira reproduzir alguma parte, favor consultar as políticas do blog. 

Rafael

Sobre o autor

Rafael Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, viciado em Internet, e adora esse mundo literário. Prefere os livros contemporâneos, mas, de vez em quando, precisa de algumas doses de fantasia.
@rafaschiabel Skoob Tumblr

Related Posts with Thumbnails