24 de fevereiro de 2012

Filme: ...E o Vento Levou




...E o Vento Levou
Gone With The Wind
EUA
1939
Drama
233 minutos

Dirigido por: Victor Fleming.
Escrito por: Sidney Howard.
Baseado na obra ...E o Vento Levou, de Margaret Mitchell.
Elenco: Vivien Leigh, Clark Gable, Olivia de Havilland, Leslie Howard.       

Na noite de 9 de setembro de 1939, o gerente do cinema Fox, em Riverside, Estados Unidos, interrompeu a sessão de um filme para informar o público uma mudança na programação. Para quem desejasse ficar na sala, teria a oportunidade de ver um filme ainda não lançado. Todos teriam direito a um telefonema, para avisar seus familiares que iriam se atrasar, afinal o filme tinha uma longa duração. A sessão durou quatro horas e vinte e cinco minutos. Ao sair do cinema, o público sentia-se maravilhado. Era a primeira sessão teste, antes do lançamento, de ...E o Vento Levou.


O filme é um dos grandes clássicos de todos os tempos do cinema, permanece vivo na memória de público e crítica e era mais um caso onde ninguém acreditava em sua adaptação para a sétima arte. O livro de Margaret Mitchell, um tijolo de 1037 páginas, tornou-se um enorme sucesso editorial em pouquíssimo tempo, transformando-se no livro mais vendido e favorito dos americanos, na época. Seria, no mínimo, trabalhoso adaptar uma história extensa para um filme que não desse muitos gastos e não ficasse tão longo.


A verdade é que ...E o Vento Levou deu muitos gastos. Não só financeiros, como desgastou a saúde do produtor David O. Selznick, do roteirista Sidney Howard e do diretor Victor Fleming (que não dirigiu-o sozinho, mas foi o único creditado). Entre várias noites em claro (com direito a muito medicamento receitado pelo médico da equipe de filmagem), os realizadores lutavam contra o tempo, a falta de recurso e, muitas vezes, a falta de roteiro e de atores. Quando assistimos a um filme tão deslumbrante e tão impecável, não podemos imaginar nas inúmeras dificuldades enfrentadas por todos no momento de pré, produção e pós-produção.


Outra verdade é que o filme não ficou curto: são três horas e cinquenta e três minutos de projeção, algo muito incomum e raro de se ver. Não é para menos, afinal o gigantesco romance de Mitchell foi adaptado em um roteiro de quatrocentas páginas, que, em tese, dá mais de cinco horas de filme. Selznick, juntamente com a ajuda de outros roteiristas, perdeu mais noites de sono cortando diálogos que não tinham tanta importância e priorizando as principais sequências do livro e alocando-as no script.


...E o Vento Levou, resumidamente (e muito, diga-se de passagem), conta a história de Scarlett O’Hara, filha de fazendeiros e irmã de moças mimadas, assim como também é. Apesar de mimada, é dona de uma forte personalidade que demonstra desde adolescente. Ela é apaixonada pelo vizinho, Ashley Wilkes, que vai se casar com uma prima sua, Melanie. Sua decepção e sua frustração são grandes ao descobrir que não há chances para ganhar a atenção e o amor do amado, fazendo-a tomar decisões impensadas e impulsivas. Até ela conhecer Rhett Butler.


Apesar de todos os figurinos deslumbrantes, cenários colossais e uma fotografia maravilhosa (o Technicolor ajuda, e muito), o filme é sustentado, em sua grande parte, pelas competentes atuações dos atores principais.


Vivien Leigh, na época, foi um achado. Ela é o brinco do filme: apresenta uma Scarlett forte, com grande presença, que não se deixa abater por situações, dificuldades ou homens. Mas, ao mesmo tempo, é frágil; frágil ao lembrar que o seu verdadeiro amor não é e nunca será correspondido, tornando-a uma das melhores personagens já criadas (um ponto a mais para a atriz, que precisava suportar o mau hálito de Clark Gable, causado por sua dentadura — tudo pelo considerado mais belo sorriso de Hollywood, na época). Falando nele, Clark Gable foi, claro, a estrela do filme. Depois de negociações, o produtor Selznick conseguiu contratá-lo para viver Rhett Butler; o ator, no entanto, não desejava interpretá-lo, pois temia uma rejeição grande do público leitor da obra de Margaret Mitchell. Porém, sua presença em cena é mais que satisfatória: mostra um verdadeiro gentleman, mas que fala duramente a verdade quando é preciso.


Quanto ao outro casal, Ashley e Melanie, interpretado por Leslie Howard e Olivia de Havilland, respectivamente, há uma diferença: se a intenção era mostrar Ashley da forma mais patética possível, Howard está de parabéns, a personagem é a única covarde de toda a história. Já Havilland demonstra fragilidade natural e delicadeza materna ao interpretar Melanie, aquela que se importa com todos, menos consigo mesma, prova disso é a sua constante negligência em relação ao sentimento que Scarlett nutre por seu marido.


Falar de ...E o Vento Levou pode durar horas e horas, linhas e mais linhas, assim como o livro demonstrou e como seu roteiro cinematográfico adaptou e resumiu, mas sem tirar a essência da história desenvolvida maestralmente por Margaret Mitchell.

Por curiosidade, alguns números: o filme custou US$4,25 milhões, mais US$1,55 milhão apenas com publicidade e cópias para os cinemas; foram 30 horas de películas rodadas em 90 estúdios; 2400 figurantes utilizados e mais de 50 personagens com vários diálogos durante o filme.



 -
O conteúdo deste post é protegido. 
Caso queira reproduzir alguma parte, favor consultar as políticas do blog. 

Ewerton

Sobre o autor

Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera A Bombonière

Related Posts with Thumbnails