26 de agosto de 2011

Filme: Irreversível


Irreversível
Irréversible / IЯЯƎVƎЯSIBLƎ
2002
França
Drama
99 minutos


Direção: Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé


© 2002 Studio Canal
Irreversível é considerado, e com razão, um dos filmes mais violentos no cinema. O título em si já sugere muitas coisas: a violência é, invariavelmente, irreversível; é algo que não tem volta, torna-se uma situação muitas vezes gratuita e irremediável.

A película foi escrita, editada e dirigida por Gaspar Noé. O franco-argentino, provavelmente, estava a fim de fazer um filme que não fosse esquecido por seus espectadores, seja por motivos bons ou ruins. Com certeza Noé queria uma vaga na história do cinema e, com Irreversível, conseguiu.

O diferencial do filme já é estampado de cara pela câmera. Inquieta, inconstante, instável. Dificilmente ela mantém um foco. Gira, sobe, desce, vai, volta. O espectador sente-se incomodado porque não tem uma visão privilegiada daquilo que está se desenrolando em cena.

© 2002 Studio Canal
A edição também apresenta-se de modo completamente diferente. Assim como no Memento de Christopher Nolan, a estória não é contada em ordem cronológica. Aqui em Irreversível, acompanhamos o filme de trás pra frente: começa pelos créditos finais e termina com a primeira cena do roteiro, ou melhor, com a frase de efeito que permeia todo o desenrolar da estória.

E, por fim, a música. A trilha sonora também incomoda a quem assiste, mas nos momentos certos. Na cena em que Marcus (Vicent Cassel) e Piérre (Dupontel) vão ao Rectum, um bar gay de Paris, procurar o homem que estuprou Alex (Monica Belucci), respectiva atual e ex namorada dos dois, a música joga contra os ouvidos do espectador um som que aumenta e diminui em sua intensidade, aumenta e diminui, aumenta e diminui. Lembrando que ela acompanha a câmera que gira, dá cambalhotas, vai e vem, sem parar.

© 2002 Studio Canal
Todo esse tratamento dado por Noé ao filme tem um único objetivo: mostrar que há momentos em nossas vidas que são insuportáveis de assistir, e que, ainda por cima, não têm volta: são irreversíveis.

A cena do estupro, por exemplo, dura quase dez minutos. E é, pela primeira vez no filme, que a câmera é jogada no chão, e fica lá, como se tivesse sido esquecida propositalmente, para nos mostrar, de forma crua, repulsiva e ultraviolenta a realidade e o perigo que qualquer um está sujeito a passar.

O fato da edição ser ao contrário foi uma das sacadas geniais de Noé, afinal, você começa a assistir um turbilhão de acontecimentos violentos e irrefreáveis, acompanhando o ódio supremo de Marcus e as tentativas frustradas de Piérre ao pensar racionalmente, para depois acalmar-se juntamente com a câmera, com a música e com as cenas em si, descobrindo que Marcus tinha vários motivos para querer matar o homem que estuprou sua namorada.

© 2002 Studio Canal
Irreversível causou o asco de inúmeros críticos em Cannes, no ano de seu lançamento, juntamente com a reprovação de boa parte de quem o assistiu. Mas, de maneira também irreversível, tornou-se um filme merecidamente cultuado, respeitado e, acima de tudo, admirado. É uma obra controversa, devemos admitir. Mas justamente por ser controversa ela acaba marcando quem assiste, pois mostra uma realidade pesada de uma forma aparentemente surreal.


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Ewerton

Sobre o autor

Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera A Bombonière

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